Estudos sobre o desenvolvimento de games

O livro Estudos sobre o desenvolvimento de games, tem como objetivo apresentar trabalhos acadêmicos e científicos acerca dos jogos digitais produzido por diversos pesquisadores atuantes no Brasil

O livro Estudos sobre o desenvolvimento de games, tem como objetivo apresentar trabalhos acadêmicos e científicos acerca dos jogos digitais produzido por diversos pesquisadores atuantes no Brasil. Produzido com os recursos do Plano de Incentivo à Pesquisa (PIPEq) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e com o apoio do GATERME (​Grupo de Pesquisa em Games, Aplicativos, Tecnologias de Realidade Mista e Educação Empreendedora) do Mestrado Profissional em Desenvolvimento de Jogos Digitais da PUC-SP.

Mas do que se trata este volume? Aqui você encontrará tópicos diversos, mas começamos situando o leitor no que é fundamental: o que de fato é um jogo? Para isso, apresentamos as visões de alguns pesquisadores e desenvolvedores de jogos, principalmente para consolidar a perspectiva de que não existe uma única forma de ver o jogo. Clique aqui e baixe o livro.

Mas se vamos falar de jogo, o assunto game design não poderia ficar de fora, pois a evolução constante das tecnologias usadas nos jogos digitais traz novos desafios, e oportunidades, para que os designers de games e suas equipes possam explorar diferentes abordagens e formas do jogar, além de apresentar dicas e técnicas usadas por grandes desenvolvedores a fim de criar um jogo harmonioso, que faz sua estética, história, trilha sonora e mecânicas dialogarem.

Ainda sobre o tema game design, apresentaremos conjunto de técnicas ágeis para produção artefatos individuais, independentes ou não, baseados em diagramas, figuras e textos para a documentação, organização e comunicação das características gerais e específicas de game design, com o objetivo de oferecer uma visão única, flexível, ampla e detalhada para o time de desenvolvimento de games.

As interfaces para jogos digitais não ficaram de fora, por meio de referências e exemplos, será apresentado o processo de produção de interfaces de jogos de digitais que se baseiam em um método ágil, que permite que apenas com wireframes e protótipos de baixa fidelidade, se teste e melhore a interface antes que ela chegue a versão final, economizando recursos financeiros e de tempo, otimizando o processo como um todo.

Prepare-se também para conhecer um framework para a criação de level design, a partir das práticas no mercado além da análise de algumas possibilidades de game design que quando aplicadas a esses momentos iniciais do game podem ensinar seu jogador a jogá-lo, sem quebrar a experiência proposta do jogo, de forma natural e mantendo o jogador em seu círculo mágico.

Sabemos que produção de jogos eletrônicos se apresenta como um evento global e um processo irreversível enquanto manifestação cultural. Neste sentido, os espaços dedicados à formação, nos quais compreendemos a educação, podem e muitas vezes se utilizam do universo digital dos games como forma de gamificação do currículo escola. Assim, um tipo de jogo emerge em meio a diversidade e natureza destes espaços e desenvolvedores e professores precisam unir forças no sentido de promover jogos epistemológicos nos quais aspectos da pesquisa científica e da diversão constituem o game design e level design – puzzles.

E como descrever as aplicações de perfis de jogadores e emoções no processo de desenvolvimento de jogos? Analisamos comparativamente com os principais métodos de desenvolvimentos de jogos descrevendo as aplicações, no contexto da pesquisa e do desenvolvimento de jogos. Juntamente a isso, veremos como o design thinking auxilia o processo de criação de jogos por alunos de diversas idades.

Conheceremos também a iniciativa interdisciplinar de estudo e prática em jogos — hoje chamada de Rio PUC Games (RPG), nascida na PUC Rio. Este movimento estudantil é composto por alunos de diferentes cursos de graduação, em sua maioria Design, que atuam em funções pertinentes ao desenvolvimento de jogos: artes, programação, design de jogos e produção.

Entenderemos também as necessidade dos criadores de games pensarem em questões relevantes para a sociedade além de ter contato com projetos gamificados em realidade virtual apresentando considerações sobre como um olhar sobre a imperfeição dos objetos no mundo real pode ser a chave para a criação da ilusão de perfeição em objetos tridimensionais, sem esquecer, claro, de descrever as experiências de idosos com jogos.

Espero que você aproveite a jornada e todas as jogadas. Conheça também o livro Level design, jogabilidade e narrativa para games.

Você conhece a Fábula de Jogo?

Games são obras narrativas. Independente da natureza do jogo digital, até mesmo um simples puzzle lógico traz em si elementos narrativos que contam uma história, uma aventura ou simplesmente um processo de descoberta. Chegou a hora de conhecer a Fábula de Jogo!

Em um jogo digital, além de você poder jogar uma história, você pode interpretá-la de várias maneiras. A cada nova etapa vencida, uma nova descoberta se faz. E não se pode negar que a narrativa encontra no game um habitat fértil (Santaella, 2007).

Fértil, pois o ambiente digital, onde acontecem as dinâmicas de jogo, propicia que a multilinearidade narrativa inerente a este meio esteja presente e seja aplicada, lida e relida sempre que um novo ato de jogar aconteça.

Contudo, é preciso aqui começar a definir um caminho a ser percorrido na presente pesquisa e perguntar: mas o que são de fato obras narrativas? De acordo com Barthes (2011), “a narrativa pode ser sustentada pela linguagem articulada, oral ou escrita, pela imagem, fixa ou móvel, pelo gesto ou pela mistura ordenada de todas estas substâncias; está presente no mito, na lenda, na fábula, no conto, na novela, na epopéia, na história, na tragédia, no drama, na comédia, na pantomima, na pintura, no vitral, no cinema, nas histórias em quadrinhos, na conversação”. Como a primeira edição da obra citada foi escrita em 1973, o game, o videogame e os jogos digitais não estão na lista do autor. Fosse o livro escrito por Barthes alguns anos depois, estariam, pois games contam histórias que podem ser jogadas.

Neste sentido usaremos o conceito de fábula proposto por Bal (1997) para estabelecer os parâmetros de análise na narrativa. E dentro de um estudo aprofundado sobre o tema, a autora apresenta o conceito de fábula. Como podemos definir o que é uma fábula dentro deste contexto? Antes é preciso saber como o termo é usado.

Na Língua Portuguesa, a palavra “fábula” apresenta diversos significados, como: narrações alegóricas cujas personagens são, por via de regra, animais, e que encerra uma lição de moral, com as fábulas de La Fontaine. Mitologia, lenda: os deuses da fábula. Narração de coisas imaginárias: ficção. Fabulação. Assunto de crítica. Enredo. Quantia ou importância muito elevada: grande soma de dinheiro (Portella, 1983).

Já o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, Michaelis, define fábula destas seis formas: 1 – Pequena narrativa em que se aproveita a ficção alegórica para sugerir uma verdade ou reflexão de ordem moral, com intervenção de pessoas, animais e até entidades inanimadas. 2 – Narração imaginária, ficção artificiosa. 3 – Narrativa ou conjunto de narrativas de ideação mitológica; mito. 4 – Entrecho ou urdidura de qualquer obra de ficção. 5 – Os elementos de deformação da realidade nas composições do gênero épico ou de invenção. 6 – Mentira.

A segunda definição de “fábula” (narração imaginária, ficção artificiosa) contribui para o uso da palavra fábula no contexto deste trabalho de pesquisa, assim como uma definição de Portella: narração de coisas imaginárias, ficção. Este é o sentido de fábula que adotaremos neste trabalho.

Tendo a narrativa como um dos pontos relevantes neste texto, vamos assumir que, dentro do contexto da Língua Portuguesa, o conceito de enredo e narrativa para tratar especificamente da fábula e construir aqui uma raciocínio para a apresentação do conceito de Fábula de Jogo.

Cabe aqui considerar uma fábula como um agrupamento específico de uma série de acontecimentos. A fábula, como um todo, constitui um processo, embora cada evento também possa ser chamado de processo, ou pelo menos parte dele. É fundamental distinguir as três fases da fábula: a possibilidade (ou virtual), o evento (ou realização) e o resultado (ou conclusão) do processo. Nenhuma dessas três fases é indispensável. Uma possibilidade pode ou não ser realizada. E mesmo que o evento aconteça, nem sempre é garantida uma conclusão satisfatória (Bal, 2017).

Veja um exemplo específico desta do universo dos games. O jogo Super Mario Bros, lançado em 1985 pela Nintendo, conta com oito mundos e, cada um destes mundos possui quatro fases. O objetivo final do personagem principal é enfrentar, no oitavo e último mundo, o vilão chamado Bowser, salvar a Princesa Peach e libertar os habitantes do Reino dos Cogumelos.

Para chegar ao objetivo final, Mario, o personagem principal, vive uma sequência de eventos e acontecimentos, formando assim a narrativa presente no jogo. Contudo, a conclusão do objetivo final, nem sempre é satisfatória e alguns eventos podem não acontecer em um primeiro momento, pois o jogador precisa aprender como vencer os vilões para assim salvar a Princesa Peach. Apesar de uma conclusão não satisfatória, o jogo continua até a conclusão satisfatória.

Como podemos ver, a história do jogo é uma narrativa. E, de acordo com Bremond (2011), “toda narrativa consiste em um discurso integrado em uma sucessão de acontecimentos de interesse humano na unidade de uma mesma ação”. Olhando para a história dos games, desde o seu início, até os dias atuais, não é difícil fazer esta analogia direta: um jogo digital é composto, dentre tantos elementos, de um agrupamento específico de uma série de acontecimentos. Estes acontecimentos, apesar de serem jogados quando o game está pronto, passou por um planejamento prévio, um processo de criação e escrita e construção de uma narrativa. E é este processo de criação e de definição da sequência de acontecimentos que daremos o nome aqui de Fábula de Jogo.

E neste ponto vou propor que, uma Fábula de Jogo [FDJ] é, portanto, uma sequência de acontecimentos narrativos que podem ser jogados construindo assim a narrativa presente no jogo digital. Estes acontecimentos narrativos devem estar documentados de alguma forma durante o processo de criação, antes de serem programados para serem transformados em um jogo digital.

Veremos mais sobre o processo de documentação em textos futuros, mas caso tenham dúvidas, deixe aqui seu comentário.

Sendo a proposta de Fábula de Jogo ser uma sequência de acontecimentos narrativos, o que aconteceria se isolássemos estes acontecimentos, ou seja, separarmos em acontecimentos independentes?

Este é um assunto para o próximo texto.

Referências Bibliográficas

BAL, M. Narratology: Introduction to the Theory of Narrative. 2nd. ed. Toronto: University of Toronto Press, 1997.

BARTHES, R. Análise estrutural da narrativa – 7a edição. Petrópolis: Vozes, 2011.

BREMOND, C. A lógica da narrativa. BARTHES, Roland et al. Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: Vozes, 2011.

SANTAELLA, L. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007.

PORTELLA, O. O. A fábula. Revista Letras, v. 32, 1983.

Para ser um profissional do setor de games não basta apenas gostar de jogar…

Entrevista concedida a Helena Ometto, da Popular Science Brasil. A matéria foi publicada na edição número 7 da revista.

Helena Ometto: O que é necessário para ser um profissional do setor? O Brasil tem mão de obra para isso? Que tipo de diferencial um profissional desse setor deve buscar?

David de Oliveira Lemes: Para ser um profissional do setor de games não basta apenas gostar de jogar. É preciso gostar de construir um jogo, o que não é uma tarefa trivial. É preciso saber projetar, programar, desenhar e gostar muito deste mundo em intersecção: arte e tecnologia.

O Brasil tem mão de obra para isso sim. Existem muitos cursos de graduação e pós-graduação em jogos digitais que vem formando profissionais para atuar no mercado de jogos digitais.

O mercado no Brasil ainda é pequeno e competitivo, portanto o profissional deve se diferenciar pela qualidade do seu trabalho. Nem todos os que se formam em Jogos Digitais acabam atuando na área. Somente aqueles que se dedicam muito durante o curso e constroem um portifólio relevante.

Helena Ometto: Quais são as principais inspirações para o desenvolvimento de games hoje? A realidade ou a ficção fazem mais sucesso?

David de Oliveira Lemes: Um jogo, antes de mais nada, precisa contar com alguns fatores fundamentais para sua criação: desafio, diversão e recompensa. Estes fatores, além de outros existentes, ajudam no processo de criação de games. É difícil dizer se a realidade ou a ficção fazem mais sucesso, contudo, grandes franquias são baseadas na ficção.

Helena Ometto: Poderia falar um pouco sobre o desenvolvimento de jogos voltados para a educação e a sustentabilidade?

David de Oliveira Lemes: Não conheço jogos comerciais voltados para sustentabilidade, contudo existem muitas iniciativas que trabalham os games voltados para mudança social, como por exemplo o Games For Change, que já conta com sua versão brasileira.

Helena Ometto: Qual setor de games está mais em alta nesse momento (PC, consoles, smartphones) no mercado mundial? E no Brasil?

David de Oliveira Lemes: No mercado mundial, a alta sempre estará ao lado dos games para consoles em função do grande número de aparelhos e também do grande número de games produzidos. Contudo, o mercado de games para smartphones vem crescendo a cada dia. O Brasil tem um bom mercado de games online e o mercado de games para celular vem crescendo a cada dia. Inclusive existe muitas empresas nacionais faturando alto nesta área.

Helena Ometto: Existem especializações para o desenvolvimento específico de games para PC, smartphone, consoles?

David de Oliveira Lemes: Quando um game é desenvolvido, nos dias atuais, ele já é pensando para ser multiplataforma. Games para PC e consoles possuem as mesmas características pois hoje estas máquinas possuem uma excelente capacidade de processamento gráfico. Jogos desenvolvidos para smartphones precisam de outra concepção em função dos controles e limites do hardware.

Helena Ometto: É possível um desenvolvedor vender seus produtos de forma autônoma ou é necessário se associar a uma marca/empresa?

David de Oliveira Lemes: Vivemos em plena era dos jogos independentes onde um desenvolvedor por fazer seus games sozinhos e vender em lojas online como App Store, da Apple e Android Market, do Google. As ferramentas de desenvolvimento de games evoluiram muito e possibilitam que uma pessoa consiga fazer tudo sozinha.

Helena Ometto: O Brasil pode ser considerado um grande celeiro para jogos independentes? Existe um país que concorra diretamente com ele?

David de Oliveira Lemes: Em função das atuais tecnologias de informação e comunicação, ficou fácil criar, desenvolver, publicar e vender seus jogos. Em todas as partes do mundo pessoas estão partindo para o desenvolvimento de games independentes. Existem muitas iniciativas no Brasil assim como existem em outras partes do mundo. A Rovio, a produtora do game Angry Birds, fica na Finlândia.

Helena Ometto: Quais são as diretrizes, as disciplinas de um curso de games no Brasil? Elas se assemelham aos cursos internacionais? Quais pontos ainda precisam ser aprimorados?

David de Oliveira Lemes: Um curso de games é composto por diversas disciplinas, tanto de exatas, quando de humanas. Elas passam por programação, modelagem 3D, animação, criatividade, roteiro, game design, história dos games, entre outras. Os cursos internacionais seguem as mesmas diretrizes, a diferença é que muitos cursos lá fora contam com professores da indústria e aqui no Brasil a indústria ainda está em plena formação e desenvolvimento.

Helena Ometto: Os cursos universitários de games trazem disciplinas ou noções de empreendedorismo?

David de Oliveira Lemes: Os cursos universitários contam com disciplinas de marketing que abordam questões relacionadas ao empreendorismo, contudo, não conheço um curso que tenha disciplinas exclusivas de empreendorismo. Mas deve ter, basta procurar.

Helena Ometto: Há mercado para esses profissionais recém-formados no Brasil ou a maioria migra para outros países?

David de Oliveira Lemes: Há mercado para o profissionais recém-formados sim, contudo, apenas para os bem formados, ou seja, aqueles alunos que se dedicam intensamente, constroem um excelente portifólio e montam as bases para atuar no mercado. Muitas alunos acabam não entrando tão rápido no mercado, pois gastam mais tempo jogando do que estudando durante o curso de graduação em games.

Helena Ometto: Quanto custa fabricar um game? Qual o investimento?

David de Oliveira Lemes: Tudo depende to tamanho do game. Um game independente por ser produzido gastanto-se R$ 5.000,00 e um game complexo, de uma grande franquia, pode custar centenas de milhares de dólares.

Helena Ometto: Quais são os softwares e programas mais utilizados no desenvolvimento de games no Brasil?

David de Oliveira Lemes: No Brasil, como em todo mundo, são usados softwares de modelagem 3D, softwares de manipulação de imagens e ilustração e frameworks de desenvolvimento como Unity 3D, ShiVA 3D, Unreal Development Kit entre outros. Contudo, mas do que os softwares, o que é muito importante são os fundamentos em game design, programação, ilustração, modelagem 3D…