É possível aprender jogando videogame?

A resposta a essa pergunta pode ser bastante polêmica, mas sim é possível aprender jogando videogame. Talvez muitos educadores e até mesmo pais que estão lendo este texto neste momento, estão olhando torto para o tema, mas a verdade é que hoje você vai descobrir como isso é possível.

Os assuntos tratados em artigos recentes têm proposto uma reflexão sobre a nova maneira de educação. As questões que estamos trazendo são justamente atrelar elementos tecnológicos da rotina para o processo de aprendizagem. E por que não o videogame?

A ideia de aprender se divertindo é o sonho de muita gente, seja crianças, adolescentes ou adultos. Além de entreter, os jogos digitais ensinam e há vários estudos comprovando essa ideia. E um ponto importante: não são somente os jogos educacionais que estamos falando, mas sim dos jogos de videogames populares no mundo todo, os que muitas vezes são vistos como algo que atrapalha o ensino, mas não.

Os videogames trabalham nossas capacidades cognitivas. A maioria dos jogos disponíveis melhoram a nossa atenção, que no momento da competição precisam ser redobradas. Aqueles que são mais rápidos, exigem uma concentração ainda maior e este benefício pode ser usado a favor da educação.

Jogos clássicos como Super Mario tiveram seus benefícios comprovados por meio de um estudo já publicado. Ele aconteceu na Alemanha, e cientistas descobriram que apenas meia hora do jogo diariamente pode melhorar a memória, localização espacial, senso de estratégia, capacidade motora. Esses benefícios foram monitorados durante dois meses de estudo.

E você deve estar se perguntando, mas afinal como isso impacta na educação? Os jogos potencializam as nossas capacidades, mas para que isso seja aproveitado para aprender é preciso usar as habilidades trabalhadas a favor do ensino.

A proposta é que você como educador ou até mesmo como aluno, faça essa interação do jogo com o aprendizado. Você pode usar tanto dessas habilidades potencializadas com os jogos para potencializar também o ensino, como o próprio conteúdo dos jogos virar tema central do estudo.

Vamos a um exemplo: jogos como Age of Mythology, God of War podem auxiliar e propor debates e formas de ensino inovadoras do que foi a civilização grega. Call of Duty que aborda guerra fria, segunda guerra mundial, conflitos atuais podem fazer o mesmo.

Esses jogos são todos bastante conhecidos pelos gamers. Quando você insere o game para educação de temas tradicionais, você vai além dos livros e traz a aprendizagem para algo próximo do aluno. Ele verá que o que ele está aprendendo, faz parte de algo que ele gosta, e assim torna mais atrativo o estudo em si.

Outro exemplo acontece com o estudo de outras línguas. Os jogos de videogame possibilitam o aumento de vocabulário, aumentam a capacidade auditiva para o novo idioma, além de motivar o aluno a querer saber mais. Ele vai conseguir ver uma aplicação prática do porquê ele precisa aprender uma nova língua. Isso para uma criança ou adolescente é extremamente encantador.

Sem contar que trazer os jogos de videogame como uma nova estratégia educacional, quebra a seriedade com que é visto a educação. Ela passa ser mais “legal”, atrativa e próxima. Quebra com um sistema que estamos acostumados há muitos anos e que precisa se adaptar a nova realidade em que vivemos.

Outros debates importantes apresentados como pano de fundo em jogos podem ser pauta para vários aprendizados, como trabalho em equipe, moral, ética, política, economia e até mesmo intolerância social e racial. Percebe como quando é feita a ponte dos jogos para os assuntos tratados na sala de aula o quão benéfico isso pode ser?

Além disso, os jogos digitais também preparam os alunos para serem multitarefas, algo que é muito valorizado no mercado de trabalho. Podemos dizer que os games ajudam inclusive a formar o profissional de hoje.

É claro que os jogos devem sim ser usados com quantidade de horas determinadas, principalmente para crianças e adolescentes. O jogo deve ser mais uma ferramenta de auxílio na educação, mas o estudo em si não deve ser trocado por ele. O aluno precisa entender, ainda que indiretamente, o quanto pode ser bom estudar e como o que ele vê no entretenimento é também parte do seu estudo.

Agora que falamos um pouco mais sobre essa possibilidade de inserir os games na educação, o que você acha? Qual a melhor forma de usar os videogames como aliados do ensino? Você já faz alguma ação desse tipo?

Qual é o impacto da inteligência artificial na educação?

O impacto positivo do uso da tecnologia na educação tem sido um assunto importante a ser debatido, bem como os benefícios destes recursos nos dias atuais. Hoje vamos abordar uma outra vertente significativa quando falamos sobre tecnologia e ensino: inteligência artificial.

Pode parecer ficção, mas a inteligência artificial já é realidade há algum tempo e está sendo implementada na área da educação. Vamos discutir qual o impacto, o conceito da I.A. para aprendizagem e a necessidade de se adaptar a essa nova realidade.

A inteligência artificial é uma área da computação que conta com muitas definições. E de forma geral, pode ser definida como sistemas de computador que possibilitam a realização de tarefas antes feitas por nós seres humanos. A I.A., como é conhecida, faz uma simulação do nosso raciocínio e percepção na hora de tomada de decisões e resolução de problemas.

Toda essa revolução tecnológica tem impacto também na educação. Os softwares desenvolvidos para ensino têm revolucionado o setor e as áreas beneficiadas vão da gestão até o aprendizado em si.

O grande impacto para o aluno é a viabilidade de trilhas de aprendizagem individuais, que possibilitam ao estudante uma experiência única e personalizada atendendo as necessidades de cada um.

Os softwares são capazes de identificar quais os pontos precisam ser trabalhados pelo estudante e dão um direcionamento de conteúdo de acordo com o que foi identificado. Além desse direcionamento, outro benefício é o acompanhamento constante do processo de aprendizagem.

A I.A. também pode auxiliar na identificação de situações mais sérias no processo de ensino como a dislexia e o autismo.

Ensinar já não é a mesma coisa quando se implementa inteligência artificial. Os professores ampliam suas competências e habilidades, e é possível com a I.A. maior precisão e rapidez na execução de tarefas.

Já sabemos como o envolvimento do aluno com o ensino se torna muito mais atrativo quando é usado a tecnologia, uma vez que isso já é a realidade em sua vida em diversas áreas, e com a inteligência artificial não é diferente. O processo de aprendizagem se torna algo muito mais dinâmico, o aluno consegue potencializar suas habilidades, uma vez que o ensino é feito de maneira individualizada.

No Brasil uma parceria entre dois pesquisadores tem ganhado cada vez mais espaço. Se você já leu sobre inteligência artificial na educação ou pesquisa sobre, certamente já ouviu os nomes de Seiji Isotani da Universidade de São Paulo (USP) e Ig Ibert Bittencourt Santana Pinto, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). A parceria que começou em 2007 nos Estados Unidos, onde eles eram representantes brasileiros da International Conference in Artificial Intelligence in Education, evento renomado que reúne nomes do mundo todo ligados a I.A. na educação.

Recentemente eles foram convidados pelo Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) para produzir um material sobre inteligência artificial na educação, você pode acessá-lo por este link e fazer o download.

Para se ter noção de que esta não é uma realidade futurista, no Brasil já existe uma instituição de ensino que tem um professor 24 horas para tirar dúvidas dos alunos e ajudá-los nos estudos: a Saint Paul Escola de Negócios. Ela foi a pioneira na implementação dessa tecnologia.

Outro ponto importante é que a PUC-SP possui um Bacharelado em Ciência de Dados e Inteligência Artificial. Além disso, o Prof. Diogo Cortiz criou um curso gratuito chamado Inteligência Artificial para Todos e você pode conferir tudo no YouTube.

Além disso, o Colégio FECAP conta com um Curso Técnico de Inteligência Artificial que visa capacitar o aluno para desenvolver algoritmos que simulam a inteligência humana na forma de analisar dados, na busca de soluções e tomada de decisões que produzam melhorias de acordo com a especificidade e necessidade de cada cenário.

Curiosidade a IA: o termo Inteligência Artificial surgiu há mais de 60 anos. O responsável por isso foi o cientista da computação norte-americano John McCarthy.

Como você pode ver a salas de aula inovadoras já são realidade e é preciso entender que essa revolução na educação já começou e se adaptar as tecnologias que podem ajudar tanto no processo de aprendizagem cada vez mais assertivo e personalizado.

A inteligência artificial está aí para ser mais uma maneira de romper barreiras da educação. E você o que acha da I.A.? Isso já é realidade na sua vida de alguma forma? Compartilhe comentando o que você pensa sobre o assunto!

Aprendizagem baseada em projetos em problemas (PBL). Experiências da PUC-SP

Esta semana tive prazer de participar de uma live com a Prof. Dra. Talitha Nicoletti e o Prof. Dr. Diogo Cortiz sobre aprendizagem baseada em projetos e metodologias ativas na educação.

A PUC-SP é a primeira universidade do Brasil a ter graduações como Design, Engenharia Biomédica, Jogos Digitais, Ciência de Dados e Inteligência Artificial 100% PBL, sem disciplinas, totalmente orientando a projetos e problemas.

Compartilhamos nossas experiências e analisamos o que dá certo e o que ainda temos dificuldades. O caminho é complexo e difícil, mas os resultados estão excepcionais. Não temos todas as respostas, mas compartilhamos nossas experiências e resultados. A live foi transmitida via YouTube e Facebook.

Veja como foi:

O que se aprende jogando videogame?

Há poucos dias um aluno fez um breve comentário que me fez pensar muito. Estava eu supervisionando a aplicação de uma prova de História para um colega professor, quando, ao entregar a prova, o aluno em questão disse o seguinte: – “Só consegui responder as questões 7 e 8 pois joguei muito Assassin´s Creed”. Pela dinâmica da sala de aula e da aplicação da prova, não tive como perguntar os motivos daquela afirmação, mas aquilo ficou martelando na minha cabeça. Para quem não conhece o jogo, a premissa central de Assassin´s Creed envolve a rivalidade entre duas sociedades secretas: os Assassinos que desejam a paz através do livre arbítrio e os Templários, que têm o mesmo objetivo mas através da ordem. Vamos deixar este assunto para outro artigo…

Isso me fez pensar no seguinte: o que aprendemos jogando videogame? Existem diversas pesquisas acadêmicas sobre o assunto além de muitos livros. Mas eu queria saber na prática, das pessoas com quem mantenho contato, a resposta para esta pergunta.

Resolvi então perguntar nas redes sociais tendo em vista que 90% dos meus alunos e ex-alunos são dos cursos de Jogos Digitais além de manter contato com muitos profissionais da área de tecnologia e games e esperar os comentários livres e sinceros. E sabe o que descobri? O óbvio ululante, claro. Muita gente aprendeu e continua aprendendo com os videogames.

Aprender inglês domina o cenário…

Aprender inglês com games é quase unanimidade entre as pessoas que responderam a indagação e muitas pessoas relataram isso. Caleb Rossetti compartilha sua experiência assim: “aprendi inglês com videogames. Todas as expressões, gírias e grande parte do meu vocabulário e gramática vieram através de jogos de videogame e computador. É claro que a interação com outros jogadores também foi crucial para as gírias. O próximo passo seria aprender japonês com jogos, mas ainda não saiu”.

“Eu seria uma pessoa totalmente diferente, com certeza pra pior, se não tivesse ganho um Sega Genesis na infância”

Já Pedro Miranda também dá um depoimento sobre ter aprendido inglês com games e vai além: “aprendi inglês, em todos os aspectos. Aprendi a me entregar para uma experiência emocional e me sentir realizado durante o processo. Aprendi que pouco muitas vezes é melhor do que muito. Aprendi que é a mídia mais forte e conectiva com o ser humano de mente aberta uma vez que seja executada de maneira coerente com sua proposta. É seguro dizer que eu seria uma pessoa totalmente diferente, com certeza pra pior, se não tivesse ganho um Sega Genesis na infância”.

Para o pesquisador e professor Francisco Tupy os games influenciam a compreensão de mundo das pessoas, de modo que, se vistos como ciência, eles ampliam as relações com o conhecimento, permitindo uma nova maneira de aprendizagem e transformando, assim, a qualidade do ensino.

É interessante ver que, os mais diversos jogos ajudaram as pessoas a aprender inglês. Patricia Salomone conta que aprendeu inglês “muito por conta de Mário, Pokémon e Resident Evil, que são as franquias que mais joguei ao longo da minha infância e juventude, mas especialmente por conta de Pokémon. Foi um jogo que eu literalmente cresci jogando. Sempre me despertou muita curiosidade e consequentemente eu ia atrás de tentar entender o que tava acontecendo e também colava em prática o que havia aprendido”. Vale lembrar que em mais de 20 anos de Pokémon, muita coisa já foi dita, de convulsões em meados da década de 90 até moleque tentou vender a sua irmãzinha por um card raro de Pokémon. Estas histórias estão aqui.

Outros aprendizados

O game designer e artista 2D Raul Tabajara relata, sinceramente, desta forma: “sou um dos poucos que não aprendeu inglês porque eu via como uma barreira e não uma oportunidade e fugia de jogos de RPG. O meu primeiro Point and Click que joguei sem meu irmão do lado foi o Full Throttle em português… depois de anos. Eu tinha um MSX em 1980 e havia um software chamado Graphos III. Era um programa pra desenhar. Eu adorava passar horas desenhando naquele programa (e depois perdia tudo quando desligava o micro). Então, uma coisa que aprendi com videogames (o MSX pra mim era um videogame), foi arte digital. Se eu sei muito de pixel-art hoje, foi porque fiz muito no MSX. Contudo, eu não sei se o videogame tem que ensinar alguma coisa. Esporte não ensina nada, e no entanto tem sempre um dizendo que o esporte tirou a pessoa das drogas, fez dela uma pessoa mais completa. As vezes acho que diversão saudável pode ser muito mais que um aprendizado acadêmico”.

“Meu interesse por programação foi 100% motivado pelo desejo de fazer games eu mesmo”

Para o desenvolvedor e professor Everson Siqueira, o processo de aprendizagem sempre foi muito rico e conta que “jogando no meu Apple II, aprendi que seu eu tivesse paciência e usasse o dicionário inglês-português, ia me divertir muito. Isso se aplica também à época dos VHS predominantemente em som original, legendado. A localização de filmes e games veio trazendo mais inclusão – mas também trouxe a ilusão de que não é necessário (ou não vale a pena) aprender outro idioma (“logo logo lançam em português!”). E, definitivamente, meu interesse por programação foi 100% motivado pelo desejo de fazer games eu mesmo”.

E para fechar, Fabio da Silva Ferreira apresenta um outro olhar sobre o aprendizado com games, revelando que “o game StarCraft e sua curva de aprendizagem intensa, me ajuda muito no meu trabalho como analista de processos: tomada de decisões, administração de recursos, alta complexidade na movimentação de unidades, praticar diariamente para não perder a sequência de evolução… o jogo te puni drasticamente se você não interpreta as janelas de ataque. Enfim, Jogos de Estratégia em Tempo Real (RTS) deveriam ser disciplina obrigatória em escolas de negócio e análise de riscos”.

Depois que lancei a pergunta nas redes sociais, recebi muitas respostas e nem todas consegui inserir no texto. Espero ter a oportunidade de citar todos em outra oportunidade. Agradeço desde já a imensa colaboração.

E como podemos ver, os jogos ajudaram a definir o caminho profissional de muita gente e contribuem para sua formação até hoje. Este é um dos grandes poderes transformadores dos games.

E a pergunta continua aqui: o que você já aprendeu com games?

David de Oliveira Lemes (@dolemes) é professor do Departamento de Computação da PUC-SP. Consultor na área de educação e tecnologia. Leciona na FIAP, FECAP e Faculdade Impacta. Também edita o GameReporter. Gostaria de consultoria, palestra para sua empresa, evento ou instituição de ensino? Entre em contato.